O II Workshop Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável foi sediado em Fortaleza/CE, de 21 a 23 de agosto de 2024, na Assembleia Legislativa do Ceará. Durante o encontro, foi enfatizado que modelos de bioeconomia, conforme preconiza uma das principais agendas do Governo Federal, demandam a proibição do abate de jumentos no Brasil, seguindo o exemplo de todo o Continente Africano.
O tema do encontro em Fortaleza foi “O Valor do Patrimônio Histórico e Cultural”. O evento contou com cinco plenárias e três palestras individuais, proferidas por pesquisadores de renome internacional, parlamentares, gestores públicos estaduais e federais, bem como representantes de organizações do terceiro setor.
A necessidade urgente de discutir a conservação do jumento nordestino decorre do abate para atender à demanda crescente da China pelo colágeno presente na pele do jumento, que hoje é estimada em 5.9 milhões de peles ao ano. A atividade é extrativista em todos os países em que ocorre, acarretando sério risco de biossegurança, à manutenção da espécie, do patrimônio genético e do patrimônio histórico e cultural. Adicionalmente, a forma como ocorre tem potencial para comprometer a reputação do agronegócio, sobretudo em um país com inegável vocação agrícola como o Brasil.
O rápido declínio populacional dos jumentos no Brasil e no mundo é incontroverso. No passado, o Brasil teve o maior efetivo de jumentos da América do Sul, contando com 1.370.000 jumentos em 1996 (FAO) e, posteriormente, com cerca de 974.688 animais em 2011 (IBGE, 2011). Em 2017, eram 376.874 (IBGE, 2017). No entanto, entre 2018 e 2023, os abatedouros oficiais vinculados ao Ministério da Agricultura e à fiscalização federal contabilizaram 231.934 jumentos abatidos. Ou seja, esses números somados às perdas de até 20% antes de chegar aos abatedouros pode levar à conclusão de que há menos de 100 mil jumentos no Brasil hoje.
A necessidade de proibir o comércio é urgente, considerando a extinção iminente de um recurso genético reconhecido, os riscos de biossegurança e o não cumprimento de diretrizes básicas sobre agricultura e instrumentos legais.
Existem evidências científicas em outros países demonstrando que os jumentos desempenham papéis ecológicos positivos e relevantes para a biodiversidade local. Seu genoma pode ser valioso para entender como enfrentar a crise climática. A atividade no Brasil gerou contaminação de doenças que possuem até 95% de letalidade em humanos, como é o caso do mormo, mas isso não foi suficiente para desencadear a devida preocupação e desenvolvimento de medidas para prevenção e gestão de riscos. Até 2019 o coronavírus também não era de preocupação - apesar dos alertas de diversos cientistas sobre modelos protopandêmicos de interação com animais.
Patricia Tatemoto e Yuri Fernandes Lima
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